quarta-feira, 27 de julho de 2016

Filmes: Precisamos falar sobre Kevin...



Quando li a sinopse de Precisamos falar sobre o Kevin fiquei interessada porque tenho profunda curiosidade sobre o que leva uma pessoa a cometer crimes brutais. Por que alguém se torna assassino? A pessoa nasce com uma predisposição a comportamentos criminosos ou o meio a transforma? Qual a importância da família no desenvolvimento de um indivíduo com tendências a perversidade? Como lidar com uma criança que apresenta condutas delinquentes? Bom, enfim... inúmeros são meus questionamentos. O filme não respondeu minhas dúvidas. Mas, curiosamente, incitou outras questões as quais eu não havia pensado que refletiria ao assisti-lo.

A atmosfera do longa é tensa. A história desenrola-se lentamente. Começa antes do nascimento de Kevin e, por isso, parece ser mais a história de Eva, mãe do garoto. Porém, após a chegada do bebê torna-se impossível dissociar mãe e filho. Aqui abro um parênteses: penso que a maternidade seja um pouco isso mesmo. Após a concepção da cria a mulher torna-se uma mulher mãe, não só mulher, e fica difícil pensá-la isoladamente, ao menos por um tempo. Mas voltando ao filme a sensação é de que vivi com Kevin os anos que antecederam seus crimes, olhando-o por meio das lembranças de sua mãe, que não sabia como agir com aquele bebê, criança e adolescente que parecia rejeitá-la desde sempre. Parecia odiá-la. Não ficou claro o porquê desse ódio, dessa falta de afeto, mas esteve presente já na época do berço. Eva também aparentava não nutrir muito carinho por aquele filho. Inclusive é possível pensar que ela desenvolveu uma depressão pós-parto ou mesmo que ela não queria engravidar naquele momento. Mas o mais importante é que tive a impressão de que entre os dois não existia afinidade e afetividade. Sabe aquelas pessoas com as quais não nos identificamos? As quais nos desagradam simplesmente pelo fato de existirem? Então. Pense um mãe dar a luz a um filho e a relação entre ambos ser assim. Para piorar a relação entre os dois havia o pai que era extremamente conivente com as atitudes insolentes de Kevin em relação a mãe. 

Algo que chamou minha atenção e fez eu pensar num possível motivo para a hostilidade de Kevin, foi o excesso do uso de vermelho pela diretora do filme (Lynne Ramsay). O vermelho pode estar associado a sangue, a morte e também a paixão e obsessão. Posso pensar que Kevin, mais do que odiar a mãe, era obcecado por ela. Era obcecado em fazê-la sofrer, em criticá-la, em deixá-la desconfortável. Os atos criminosos que cometeu nada tinham a ver com as pessoas assassinadas, mas sim com a vontade de agredir a mãe. Tanto que ela é quem mais sofreu as pressões da sociedade após o crime cometido por Kevin.

Precisamos falar sobre o Kevin causou um desconforto e várias dúvidas, além de toda reflexão que um bom drama psicológico pode proporcionar. Mas a mim, o que mais chamou a atenção foram as dificuldades enfrentadas por essa mãe que parecia não saber lidar com a maternidade, ou com aquele garoto. Eu não pensava que refletiria sobre isso assistindo a esse filme. Mas é exatamente o que mais me deixou surpresa. O que fazer ao dar a luz e não saber se relacionar com aquele ser? A maternidade não deve ser algo simples e trata-se, acima de tudo, da relação entre pessoas distintas. Portanto, é passível de uma série de conflitos. Fica a dúvida: quais as consequências que podem decorrer desses conflitos? 

Se você gosta de pensar o comportamento e as relações humanas, provavelmente irá interessar-se por esse filme que é adaptado do romance homônimo escrito por Lionel Shriver (eu, infelizmente, não li o livro antes de assistir ao filme, mas pretendo lê-lo mesmo assim). Não posso deixar de ressaltar as brilhantes atuações de: Tilda Swinton, como Eva; e de Jasper Newell e Ezra Miller, no papel de Kevin na infância (entre seis e oito anos) e  na adolescência, respectivamente.

Abaixo o trailer. 


É isso por hoje! Uma ótima quarta-feira! Até!

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